segunda-feira, 30 de julho de 2012

A TRANSCENDÊNCIA DE UM HERÓI


FILME: BATMAN- O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE (THE DARK KNIGHT RISES)
DIRETOR: CHRISTOPHER NOLAN
ELENCO: CHRISTIAN BALE, MICHAEL CAINE, GARY OLDMAN, MORGAN FREEMAN, TOM HARDY, ANNE HATHAWAY, JOSEPH GORDON-LEVITT, MARION COTILLARD.



Depois de sete anos, chega ao fim a trilogia Batman de Christopher Nolan (A origem), e posso dizer mais do que nunca que esse diretor tem o meu respeito, afinal não é qualquer um que transforma um herói de histórias em quadrinhos em uma lenda.  Obviamente a perfeição não seria possível, mas durante aproximadamente três horas de filme passei da tensão ao choro e fiquei com a sensação de que o filme cumpriu o seu objetivo de forma admirável.

A minha maior preocupação era: será que esse filme vai pelo menos conseguir ser tão bom quanto The Dark Knight? Pois bem, o filme é ótimo. Desde o primeiro (Batman Begins) fomos transportados para uma Gotham City realista e com uma atmosfera sombria jamais vista em outros filmes do herói. O trunfo de Nolan é não ter subestimado seu público e ter criado uma história densa, profunda e realmente boa para o herói que considero ser o melhor da DC Comics. Batman Begins (2005), baseado nas histórias em quadrinhos de Frank Miller, Batman- Ano Um, mostra como Bruce Wayne se torna o Batman e toda a sua luta pela superação do trauma da perda de seus pais e como, ao enfrentar o seu medo, ele foi capaz de se tornar o herói mascarado de Gotham.

Em The Dark Knight (2008), ele enfrenta um problema ainda maior, o agente do caos, o homem que não possui história e não tem nada a perder, o Coringa, inspirado em grande parte pelo quadrinho de Alan Moore, A piada mortal, brilhantemente vivido por Heath Ledger. Esse vilão, diferentemente dos outros, é o eterno paradoxo do Batman, como o próprio Coringa diz em sua cena final: É isto que acontece quando uma força que não pode ser detida encontra um objeto que não pode ser movido (...). Acho que você e eu estamos destinados a fazer isto para sempre. Nesse embate contra o crime e contra o homem que quer provar que todos são corruptíveis, Batman tenta mais uma vez ser um símbolo e acaba por se tornar um pária.

O terceiro filme (The dark Knight rises) retorna a temas e a personagens abordados em Batman Begins, como a Liga das Sombras. Somos introduzidos ao vilão Bane (Tom Hardy), um mercenário que nos é apresentado no início do filme. Diferentemente dos antagonistas dos filmes anteriores, Bane domina Gothan através do medo por ser possuidor de poder físico e intelectual. Seu objetivo é destruir Gothan por completo, representando e cumprindo com o objetivo da Liga das Sombras. Diante de uma paz forjada, Gothan não mais conta com a ajuda de Batman, que foi considerado o culpado pela morte do cavaleiro branco e herói da cidade, Harvey Dent, sendo o Comissário Gordon (Gary Oldman) o único a ter conhecimento da verdade.

Bruce Wayne (Christian Bale), depois de oito anos inativo como o vigilante mascarado, carrega o fardo de seu passado e a dúvida sobre o seu futuro. O que fazer com Batman? Porém, com uma nova ameaça à Gotham City, Bruce se vê obrigado a defender a sua cidade. O ponto problemático foi Bruce ter retornado ao traje de homem-morcego pelos motivos errados, o que acaba com o afastamento de Alfred e com um desastroso primeiro embate com Bane, embate que faz clara referência aos quadrinhos, no qual Bane fratura a coluna de Batman. Seriamente machucado, Bruce é mandado por Bane para uma prisão que somente uma pessoa conseguiu fugir (por falar nisso, essa pessoa é a chave para o desenrolar da narrativa). Lá, Bruce Wayne tem que enfrentar as suas limitações e seus medos; este é um lugar que o conduz à uma transcendência espiritual e ao nascimento de um verdadeiro herói. Depois de se libertar da prisão, Bruce retorna à Gotham City e tem o seu confronto final com Bane.

Bane é a própria destruição, um agente do medo. Discípulo de Ra’s Al Ghul (Liam Neeson), esse vilão tem o objetivo de cumprir com o ideal da Lida das Sombras: introduzir o medo e destruir Gotham. É difícil definir uma força que destrói tudo o que toca e que governa Gotham City pelo terror e pela sua própria lei. Sei que a interpretação de Heath Ledger para o Coringa é impecável e que não víamos como outro vilão poderia dar certo nesse filme, mas a verdade é que Bane deu certo e que diferentemente do que sentimos pelo Coringa, um palhaço anarquista que nos conquista, Bane nos causa repulsa e medo e acredito que esse era o objetivo do filme, nos fazer temer esse vilão que poderiam destruir Gotham City e o próprio Batman. A primeira cena em que Bane luta com Batman é de arrepiar e a sensação que ele nos deixa é que Gotham não tem como ser salva. Além de tudo isso, Bane é um vilão que acredita que Gotham merece ser punida e tenciona, partindo do submundo dessa cidade, destruir esse local onde a hipocrisia e os ricos sempre dominaram sem se preocuparem com os desfavorecidos.

Joseph Gordon-Levitt (que eu considero um dos melhores atores de sua geração e por isso uma ótima escolha) é o policial John Blake, órfão e que na verdade é nada mais nada menos que Robin. Em seu diálogo com Bruce Wayne, vemos como as duas personagens compartilham a dor pela perda dos pais e como a máscara, não somente física, mas acima de tudo psicológica os ajudou a conviver com um trauma que nunca se supera. O diferencial é que Nolan enxergou um Robin diferente de todos os que já haviam sido feitos. Um Robin que funciona como catalisador da personagem Bruce Wayne e que não seria apenas um parceiro de Batman, mas sim o herdeiro de seu legado e o homem que poderia seguir com o símbolo Batman.

Bruce Wayne e Selina Kyle
Selina Kyle (Anne Hathaway) também não é uma mulher gato convencional, aqui ela é uma ladra brilhante que usa seu charme não somente para roubar, mas para conseguir limpar a sua ficha e mudar de vida.  A personagem que leva Batman ao encontro do vilão Bane de forma traiçoeira, se redime na batalha final.

John Blake e Jim Gordon
O comissário Gordon (Gary Oldman) vive um conflito interno por guardar um segredo de grande importância que é a verdade sobre a morte e quem realmente era Harvey Dent. O querido mordomo Alfred (Michael Caine), que tem como grande propósito proteger ser patrão, tem cenas de grande dramaticidade (apesar da curta aparição no filme) que exploram o talento de um ator de peso como Caine. E Lucius Fox é vivido, mais uma vez, por todo o carisma e talento de Morgan Freeman.

Sobre a trilha sonora (que é algo que eu particularmente amo e acho que é a alma de um filme), Hans Zimmer (que também trabalhou com Nolan em The dark knight e A origem) é um gênio e conseguiu mais uma vez construir uma sinfonia que se encaixa e trabalha perfeitamente com a atmosfera do filme. 

A trilogia Nolan nos faz mergulhar em problemas de ordem política, discutindo a corrupção, por exemplo, e até de ordem psicológica, nos fazendo refletir sobre a dualidade humana e o enfrentamento de traumas. Mesmo com tudo isso, é nesse terceiro filme que Bruce Wayne passa por uma jornada que o leva ao ápice de sua humanidade, uma jornada de um homem para um herói. Uma jornada de um herói para uma lenda.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Um é pouco, dois é bom e oito é ainda melhor


FILME: Dark Shadows (Sombras da Noite)
DIREÇÃO: Tim Burton
ELENCO: Johnny Depp, Eva Green, Michelle Pfeiffer, Elena Bonhan Carter, Bella Heathcote, Chloë Moretz e Gulliver McGrath.


Em sua oitava parceria, Johnny Depp e Tim Burton levam às telonas a série de TV americana Dark Shadows. Mais de vinte anos depois de sua primeira parceria em Edward Mãos de tesoura (1990), Depp e Burton mostram que a sintonia entre os dois melhora com o tempo.

Vale ressaltar que o grande responsável por esse filme ter acontecido foi Johnny Depp. Depp era fã da história, o que o levou a comprar os direitos autorais e pedir para seu amigo Burton transformar essa trama sobrenatural em um longa-metragem. 


O filme conta a história de Barnabás Collins (Johnny Depp) que foi amaldiçoado por uma bruxa, Angelique (Eva Green), por não ser apaixonado por ela. Em tal maldição sua amada Josette se joga de um penhasco e Barnabás é punido com a vida eterna sendo transformado em um vampiro. A bruxa também faz com que Barnabás seja enterrado em um caixão por muito tempo. Quase 200 anos depois, o vampiro consegue sair de sua prisão e retorna à sua casa, onde encontra os herdeiros Collins em um tempo completamente diferente do seu. Decidido a se preocupar somente com a família, Barnabás resolve ajudá-los a recuperar sua riqueza e prestígio na cidade que tem o nome e fora fundada pelos Collins. Porém, o poderio exercido nesse local agora é de ninguém mais ninguém menos que Angelique, a bruxa loucamente apaixonada por Barnabás.

Ponto fraco do filme: alguns acontecimentos não são vistos previamente e assim são lançados de supetão no fim da trama como, por exemplo, o fato de Carolyn (Cloë Moretz) ter sido amaldiçoada pela bruxa a se tornar um lobisomem. Outra coisa que poderia ter sido melhor desenvolvida é o amor entre Barnabás e Victoria (uma espécie de reencarnação de sua amada Josette).

Johnny Depp e Eva Green como Barnabás e Angelique
Ponto forte do filme: as cenas entre Johnny Depp e a lindíssima Eva Green. Quando Johnny e Eva estão juntos o filme esquenta, os dois demonstraram estar muito à vontade em todas as cenas (inclusive na sena de sexo). Além disso, as cenas em que Barnabás se defronta com a desconhecida “modernidade” rende muitas risadas. A trilha sonora é agradável e faz um contraste com a atmosfera sombria do filme.

O filme tem tons de terror e comédia e tem como contexto os anos 70. A trilha sonora tem uma preocupação em retratar esse momento e aborda muito a disco, além de contar com a participação de Alice Cooper (que interpreta a ele mesmo no filme).

Alguns críticos dizem que a parceria entre os dois já está ficando cansativa, mas o que eu tenho a dizer é que funciona, claro que com alguns probleminhas, mas no geral o filme agrada. O estilo Burton está ali e Johnny Depp (que também é produtor do filme) está à vontade no papel do vampiro mauricinho Barnabás. Recomendo este filme com a afirmação de que Depp e Burton não causam cansaço.