sexta-feira, 17 de agosto de 2012

ENSAIO SOBRE A SAUDADE


Saudade é uma palavra difícil de ser traduzida e entendida por um estrangeiro e, além disso, é uma das palavras mais bonitas da língua portuguesa. Uma lista feita por uma empresa britânica, com a opinião de tradutores profissionais, coloca essa palavra em sétimo lugar como uma das mais difíceis do mundo de ser traduzida. Veja a lista:

1. "Ilunga" (tshiluba) - uma pessoa que está disposta a perdoar quaisquer maus-tratos pela primeira vez, a tolerar o mesmo pela segunda vez, mas nunca pela terceira vez.
2. "Shlimazl" (ídiche) - uma pessoa cronicamente azarada.
3. "Radioukacz" (polonês) - pessoa que trabalhou como telegrafista para os movimentos de resistência o domínio soviético nos países da antiga Cortina de Ferro.
4. "Naa" (japonês) - palavra usada apenas em uma região do país para enfatizar declarações ou concordar com alguém.
5. "Altahmam" (árabe) - um tipo de tristeza profunda.
6. "Gezellig" (holandês) - aconchegante.
7. Saudade (português) - sentimento nostálgico, sentir falta de alguma coisa ou alguém (o significado não é consensual).
8. "Selathirupavar" (tâmil, língua falada no sul da Índia) - palavra usada para definir um certo tipo de ausência não-autorizada frente a deveres.
9. "Pochemuchka" (russo) - uma pessoa que faz perguntas demais.
10. "Klloshar" (albanês) - perdedor.

"Saudade", só conhecida em galego e português, descreve a mistura dos sentimentos de perda, falta, distância e amor. A palavra vem do latim "solitas, solitatis" (solidão), na forma arcaica de "soedade, soidade e suidade" e sob influência de "saúde" e "saudar". Segundo o dicionário Aurélio, saudade significa: (1) lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoa ou coisa distante ou extinta e (2) pesar pela ausência de alguém que nos é querido. Porém, a definição não abarca toda a profundidade da palavra.

É interessante notar como a cultura tem uma interferência realmente significativa na criação de signos (significado + significante) como esse, o que explica a dificuldade de outras culturas para apreenderem o significado dessa palavra. Outro fator a se considerar é o contexto, qiue pode alterar a interpretação da palavra.

Além disso, a linguagem poética estende ainda mais o leque de possibilidades interpretativas dessa palavra através de metáforas. Eis a definição dada por Clarice Lispector:

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

O poema de Mário Quintana compara a saudade com a presença, uma presença intensificada pela ausência:

PRESENÇA 


É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.


A comparação é feita sob a justificativa de que a saudade nos faz com que criemos uma imagem do objeto ou, no caso, de uma pessoa, guardando na mente certas características suas e preenchendo outras de uma forma idealizada. Porém, a expectativa criada pela saudade pode ser quebrada pela realidade que a presença pode trazer. E, dessa forma, o eu lírico opta pela pessoa idealizada em sua mente, idealização causada pela ausência.

Para encerrar, deixo um poema de Pablo Neruda. O autor chileno descreve a saudade como algo doloroso, porém um mal necessário e que deve ser vivido, um sentimento ligado intimamente ao amor:

SAUDADE

Saudade é solidão acompanhada,

é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já…

Saudade é amar um passado que ainda não passou,

é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida…

Saudade é sentir que existe o que não existe mais…
Saudade é o inferno dos que perderam,

é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam…

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:

aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:

não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


segunda-feira, 30 de julho de 2012

A TRANSCENDÊNCIA DE UM HERÓI


FILME: BATMAN- O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE (THE DARK KNIGHT RISES)
DIRETOR: CHRISTOPHER NOLAN
ELENCO: CHRISTIAN BALE, MICHAEL CAINE, GARY OLDMAN, MORGAN FREEMAN, TOM HARDY, ANNE HATHAWAY, JOSEPH GORDON-LEVITT, MARION COTILLARD.



Depois de sete anos, chega ao fim a trilogia Batman de Christopher Nolan (A origem), e posso dizer mais do que nunca que esse diretor tem o meu respeito, afinal não é qualquer um que transforma um herói de histórias em quadrinhos em uma lenda.  Obviamente a perfeição não seria possível, mas durante aproximadamente três horas de filme passei da tensão ao choro e fiquei com a sensação de que o filme cumpriu o seu objetivo de forma admirável.

A minha maior preocupação era: será que esse filme vai pelo menos conseguir ser tão bom quanto The Dark Knight? Pois bem, o filme é ótimo. Desde o primeiro (Batman Begins) fomos transportados para uma Gotham City realista e com uma atmosfera sombria jamais vista em outros filmes do herói. O trunfo de Nolan é não ter subestimado seu público e ter criado uma história densa, profunda e realmente boa para o herói que considero ser o melhor da DC Comics. Batman Begins (2005), baseado nas histórias em quadrinhos de Frank Miller, Batman- Ano Um, mostra como Bruce Wayne se torna o Batman e toda a sua luta pela superação do trauma da perda de seus pais e como, ao enfrentar o seu medo, ele foi capaz de se tornar o herói mascarado de Gotham.

Em The Dark Knight (2008), ele enfrenta um problema ainda maior, o agente do caos, o homem que não possui história e não tem nada a perder, o Coringa, inspirado em grande parte pelo quadrinho de Alan Moore, A piada mortal, brilhantemente vivido por Heath Ledger. Esse vilão, diferentemente dos outros, é o eterno paradoxo do Batman, como o próprio Coringa diz em sua cena final: É isto que acontece quando uma força que não pode ser detida encontra um objeto que não pode ser movido (...). Acho que você e eu estamos destinados a fazer isto para sempre. Nesse embate contra o crime e contra o homem que quer provar que todos são corruptíveis, Batman tenta mais uma vez ser um símbolo e acaba por se tornar um pária.

O terceiro filme (The dark Knight rises) retorna a temas e a personagens abordados em Batman Begins, como a Liga das Sombras. Somos introduzidos ao vilão Bane (Tom Hardy), um mercenário que nos é apresentado no início do filme. Diferentemente dos antagonistas dos filmes anteriores, Bane domina Gothan através do medo por ser possuidor de poder físico e intelectual. Seu objetivo é destruir Gothan por completo, representando e cumprindo com o objetivo da Liga das Sombras. Diante de uma paz forjada, Gothan não mais conta com a ajuda de Batman, que foi considerado o culpado pela morte do cavaleiro branco e herói da cidade, Harvey Dent, sendo o Comissário Gordon (Gary Oldman) o único a ter conhecimento da verdade.

Bruce Wayne (Christian Bale), depois de oito anos inativo como o vigilante mascarado, carrega o fardo de seu passado e a dúvida sobre o seu futuro. O que fazer com Batman? Porém, com uma nova ameaça à Gotham City, Bruce se vê obrigado a defender a sua cidade. O ponto problemático foi Bruce ter retornado ao traje de homem-morcego pelos motivos errados, o que acaba com o afastamento de Alfred e com um desastroso primeiro embate com Bane, embate que faz clara referência aos quadrinhos, no qual Bane fratura a coluna de Batman. Seriamente machucado, Bruce é mandado por Bane para uma prisão que somente uma pessoa conseguiu fugir (por falar nisso, essa pessoa é a chave para o desenrolar da narrativa). Lá, Bruce Wayne tem que enfrentar as suas limitações e seus medos; este é um lugar que o conduz à uma transcendência espiritual e ao nascimento de um verdadeiro herói. Depois de se libertar da prisão, Bruce retorna à Gotham City e tem o seu confronto final com Bane.

Bane é a própria destruição, um agente do medo. Discípulo de Ra’s Al Ghul (Liam Neeson), esse vilão tem o objetivo de cumprir com o ideal da Lida das Sombras: introduzir o medo e destruir Gotham. É difícil definir uma força que destrói tudo o que toca e que governa Gotham City pelo terror e pela sua própria lei. Sei que a interpretação de Heath Ledger para o Coringa é impecável e que não víamos como outro vilão poderia dar certo nesse filme, mas a verdade é que Bane deu certo e que diferentemente do que sentimos pelo Coringa, um palhaço anarquista que nos conquista, Bane nos causa repulsa e medo e acredito que esse era o objetivo do filme, nos fazer temer esse vilão que poderiam destruir Gotham City e o próprio Batman. A primeira cena em que Bane luta com Batman é de arrepiar e a sensação que ele nos deixa é que Gotham não tem como ser salva. Além de tudo isso, Bane é um vilão que acredita que Gotham merece ser punida e tenciona, partindo do submundo dessa cidade, destruir esse local onde a hipocrisia e os ricos sempre dominaram sem se preocuparem com os desfavorecidos.

Joseph Gordon-Levitt (que eu considero um dos melhores atores de sua geração e por isso uma ótima escolha) é o policial John Blake, órfão e que na verdade é nada mais nada menos que Robin. Em seu diálogo com Bruce Wayne, vemos como as duas personagens compartilham a dor pela perda dos pais e como a máscara, não somente física, mas acima de tudo psicológica os ajudou a conviver com um trauma que nunca se supera. O diferencial é que Nolan enxergou um Robin diferente de todos os que já haviam sido feitos. Um Robin que funciona como catalisador da personagem Bruce Wayne e que não seria apenas um parceiro de Batman, mas sim o herdeiro de seu legado e o homem que poderia seguir com o símbolo Batman.

Bruce Wayne e Selina Kyle
Selina Kyle (Anne Hathaway) também não é uma mulher gato convencional, aqui ela é uma ladra brilhante que usa seu charme não somente para roubar, mas para conseguir limpar a sua ficha e mudar de vida.  A personagem que leva Batman ao encontro do vilão Bane de forma traiçoeira, se redime na batalha final.

John Blake e Jim Gordon
O comissário Gordon (Gary Oldman) vive um conflito interno por guardar um segredo de grande importância que é a verdade sobre a morte e quem realmente era Harvey Dent. O querido mordomo Alfred (Michael Caine), que tem como grande propósito proteger ser patrão, tem cenas de grande dramaticidade (apesar da curta aparição no filme) que exploram o talento de um ator de peso como Caine. E Lucius Fox é vivido, mais uma vez, por todo o carisma e talento de Morgan Freeman.

Sobre a trilha sonora (que é algo que eu particularmente amo e acho que é a alma de um filme), Hans Zimmer (que também trabalhou com Nolan em The dark knight e A origem) é um gênio e conseguiu mais uma vez construir uma sinfonia que se encaixa e trabalha perfeitamente com a atmosfera do filme. 

A trilogia Nolan nos faz mergulhar em problemas de ordem política, discutindo a corrupção, por exemplo, e até de ordem psicológica, nos fazendo refletir sobre a dualidade humana e o enfrentamento de traumas. Mesmo com tudo isso, é nesse terceiro filme que Bruce Wayne passa por uma jornada que o leva ao ápice de sua humanidade, uma jornada de um homem para um herói. Uma jornada de um herói para uma lenda.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Um é pouco, dois é bom e oito é ainda melhor


FILME: Dark Shadows (Sombras da Noite)
DIREÇÃO: Tim Burton
ELENCO: Johnny Depp, Eva Green, Michelle Pfeiffer, Elena Bonhan Carter, Bella Heathcote, Chloë Moretz e Gulliver McGrath.


Em sua oitava parceria, Johnny Depp e Tim Burton levam às telonas a série de TV americana Dark Shadows. Mais de vinte anos depois de sua primeira parceria em Edward Mãos de tesoura (1990), Depp e Burton mostram que a sintonia entre os dois melhora com o tempo.

Vale ressaltar que o grande responsável por esse filme ter acontecido foi Johnny Depp. Depp era fã da história, o que o levou a comprar os direitos autorais e pedir para seu amigo Burton transformar essa trama sobrenatural em um longa-metragem. 


O filme conta a história de Barnabás Collins (Johnny Depp) que foi amaldiçoado por uma bruxa, Angelique (Eva Green), por não ser apaixonado por ela. Em tal maldição sua amada Josette se joga de um penhasco e Barnabás é punido com a vida eterna sendo transformado em um vampiro. A bruxa também faz com que Barnabás seja enterrado em um caixão por muito tempo. Quase 200 anos depois, o vampiro consegue sair de sua prisão e retorna à sua casa, onde encontra os herdeiros Collins em um tempo completamente diferente do seu. Decidido a se preocupar somente com a família, Barnabás resolve ajudá-los a recuperar sua riqueza e prestígio na cidade que tem o nome e fora fundada pelos Collins. Porém, o poderio exercido nesse local agora é de ninguém mais ninguém menos que Angelique, a bruxa loucamente apaixonada por Barnabás.

Ponto fraco do filme: alguns acontecimentos não são vistos previamente e assim são lançados de supetão no fim da trama como, por exemplo, o fato de Carolyn (Cloë Moretz) ter sido amaldiçoada pela bruxa a se tornar um lobisomem. Outra coisa que poderia ter sido melhor desenvolvida é o amor entre Barnabás e Victoria (uma espécie de reencarnação de sua amada Josette).

Johnny Depp e Eva Green como Barnabás e Angelique
Ponto forte do filme: as cenas entre Johnny Depp e a lindíssima Eva Green. Quando Johnny e Eva estão juntos o filme esquenta, os dois demonstraram estar muito à vontade em todas as cenas (inclusive na sena de sexo). Além disso, as cenas em que Barnabás se defronta com a desconhecida “modernidade” rende muitas risadas. A trilha sonora é agradável e faz um contraste com a atmosfera sombria do filme.

O filme tem tons de terror e comédia e tem como contexto os anos 70. A trilha sonora tem uma preocupação em retratar esse momento e aborda muito a disco, além de contar com a participação de Alice Cooper (que interpreta a ele mesmo no filme).

Alguns críticos dizem que a parceria entre os dois já está ficando cansativa, mas o que eu tenho a dizer é que funciona, claro que com alguns probleminhas, mas no geral o filme agrada. O estilo Burton está ali e Johnny Depp (que também é produtor do filme) está à vontade no papel do vampiro mauricinho Barnabás. Recomendo este filme com a afirmação de que Depp e Burton não causam cansaço.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

FILME: 50/50


Em 50/50, Joseph Gordon-Levitt (500 dias com ela) surpreende mais uma vez em um filme simples e muito agradável dirigido por Jonathan Levine.
 O título do filme faz referência à possibilidade de cura do câncer maligno que o personagem principal descobre ter, que é de 50% (ou, como se diz em Inglês, 50/50). Joseph interpreta o jovem Adam Lerner que aos 27 anos descobre ter um tipo raro de câncer. Com isso sua vida muda totalmente, seu relacionamento com a artista Rachel (Bryce Dallas Howard), que já não ia bem, não sobrevive à pressão que uma doença como essa causa e a rotina do jovem rapaz tem que ser alterada por causa das seções de quimioterapia. Porém, o câncer, por mais catastrófico que possa ser na vida de qualquer pessoa, trouxe coisas boas para a vida de Adam, revelou o que realmente importa: o amor da família, dos amigos e a companhia de quem realmente se importa com ele.
Com as seções de quimioterapia e um amigo levado pelo câncer, Adam enfrenta o medo da morte e revê as suas relações familiares e as possibilidades que poderiam surgir em sua vida. Para atravessar esse momento, ele tem a ajuda de um amigo, Kyle (Seth Rogen), que demonstra ser um companheiro para todos os momentos, e a ajuda de uma terapeuta iniciante, Katharine (Anna Kendrick), que não consegue separar o seu trabalho de suas emoções e acaba se envolvendo com a história e com o drama vividos por Adam. Porém, mesmo com a quimioterapia não agindo da forma que deveria sobre o tumor, ou seja, fazendo-o regredir, e com a perigosa cirurgia a que deveria se submeter, Adam sobrevive e tem uma nova oportunidade para viver sua vida.
Os créditos desse filme ficam para Joseph Gordon-Levitt que conseguiu, através de seu talento como ator, nos transportar para o mundo de alguém que descobre ter câncer e tem que aprender a conviver e sobreviver a isso. Além disso, o filme conta com a participação de Angelica Huston como a mãe preocupada com o filho e que já segura uma enorme barra cuidando de seu marido que sofre do mal de Alzheimer.
50/50 é um filme que nos faz rever nossas prioridades e dar mais valor ao tempo que temos, além de mostrar que sempre há esperança e que finais felizes são possíveis. Muitas vezes nos privamos de coisas pensando que assism estaremos protegidos (como Adam, que nunca dirigiu, nem fumou, pois acreditava que isso poderia o levar a morte e, por ironia do destino, descobre ter câncer), mas a verdade é que não temos o controle sobre o que vai acontecer conosco. Só não consigo entender como um ator como esse não foi indicado ao Oscar. O filme teve duas indicações ao Globo de Ouro 2012: Melhor filme (Comédia ou Musical) e Melhor ator (Comédia ou Musical).

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

FILME: Blue Valentine


O amor do início ao fim e onde o fim se encontra com o início. Blue Valentine é um filme dirigido por Derek Cianfrance que retrata a crise e o fim de um relacionamento de uma maneira bem realista. O filme mostra como o tempo e a convivência podem ser cruéis com o amor e destruir o que no início era indestrutível. Ryan Gosling e Michelle Williams brilham nesse filme como o casal que vê a sua relação se desintegrar.
O filme segue a trajetória de um casal durante o seu momento mais difícil e o que culmina na separação. Nesse momento, vemos a reflexão de ambas as personagens sobre como tudo começou. Acompanhando o fim, temos o começo dessa história e o início do amor entre dois jovens, Cindy e Dean, como flashbacks. Dean (Ryan Gosling) é um romântico e sensível homem que acredita em amor à primeira vista, mas que não queria se casar. Cindy (Michelle Williams) é uma incógnita, que tinha uma espécie de relacionamento com outra pessoa, mas que se entregou a sua relação com Dean. O encontro com Dean traz momentos de simplicidade e de beleza característicos de uma paixão em início, um exemplo é a cena em que Cindy dança enquanto Dean toca para ela. Porém, desse relacionamento anterior Cindy acaba por engravidar. O apaixonado Dean decide antão mudar seu pensamento sobre casamento e formar uma família com ela para criar o bebê como se fosse seu.

Por outro lado, vemos o casal em seus últimos suspiros. Os diálogos entre os dois são escassos. Eles ainda tentam uma última vez, uma tentativa que não surtirá efeito e acabará acelerando o fim. O romantismo já não mais existe, o homem que não início dedicava música e levava flores para sua amada agora a convida para motéis baratos, e os momentos simples e delicados do início do romance são substituídos por momentos de mau gosto e por exageros com bebida. O que um dia foi o charme de Dean, com o tempo e sua persistência tornou-se seu defeito. As incompatibilidades irrelevantes no início do relacionamento tomam grandes proporções perto do fim e tonam a vida em dois impossível.

É triste ver o fim de um amor que prometia ser eterno enquanto durasse. O problema é que não durou. O título do filme já é uma espécie de dica para o conteúdo triste da história já que blue no inglês pode significar tristeza ou depressão e valentine tem relação com namorados e amor. O filme tem ótimas atuações de Ryan Gosling e Michelle Williams que mostram uma ótima química em cena. Recomendo.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

De Che a V

Parece que a nova moda agora é ser revolucionário e usar como símbolo a imagem ou máscara de Guy Fawkes (ou o V, de V de Vingança). Pela internet o que mais se vê são protestos, greves, dentre outras formas de manifestação em que pessoas usam essas máscaras. Vejo um futuro próximo em que todos abandonarão suas camisas com a imagem de Che Guevara e irão aderir a essa nova moda inspirados pelo filme V de Vingança (que foi baseado em uma série de romances gráficos escritos por Alan Moore). Não acho ruim as pessoas lutarem por seus direitos e usarem símbolos para demonstrarem isso. Muito pelo contrário, acho que muita coisa tem mudado por conta de tais protestos, posso citar como exemplo algumas greves e uma certa ameaça de censura que parece está sendo implantada pelos Estados Unidos no mundo virtual (sendo o segundo caso algo ainda em andamento). Porém, o que não pode acontecer é associar essa imagem à qualquer tipo de manifestação ou a um mero modismo. A imagem carrega em sí a força da revolução, do anarquismo e é uma forma de lutar contra a sociedade totalitarista (pelo menos em sua essência).

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

CRÍTICA: Melancolia


Os traços distintivos da melancolia são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expressão de auto-recriminação e auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição.
 - "Luto e Melancolia", Freud.


Melancolia (2011) é um filme que retrata de uma forma metafórica a depressão e como esta pode “contagiar” todos os que estão próximos a ela (uma experiência vivida pelo diretor). Assim como em A Árvore da Vida (2011), não é um filme que dá seu significado de mãos beijadas, é preciso compreender cada metáfora e cada imagem simbólica inserida nessa obra de Lars von Trier.

Kirsten Dunst como Justine
O filme é centrado em duas irmãs, Justine e Claire, e é dividido em três partes: Prólogo, Parte1: Justine e Parte 2: Claire. Em seu prólogo, vemos imagens em câmera lenta, algo referente ao que acontecerá na história e que nos apresenta a um planeta azul que se choca com a terra. Na segunda parte, temos como cenário o casamento de Justine (Kirsten Dunst). Sem entendermos o porquê, percebemos que a personagem tem um problema que se assemelha à depressão e que a festa de casamento com Michael (Alexander Skarsgard), oferecida por sua irmã, Claire, e seu cunhado, John, é uma tentativa de superar isso. Porém, com o decorrer da festa percebemos momentos de tristeza em Justine e o seu declínio, o que a faz dizer verdades ao seu chefe perdendo, assim, o emprego e separar-se de seu marido na festa de casamento.

Charlotte Gainsbourg como Claire
Na parte dois, Claire (Charlotte Gainsbourg) é a irmã que tenta ajudar Justine (que está no ápice de sua depressão e vem morar na mansão de John e Claire) e luta para que tudo volte à normalidade. Porém, com a aproximação do planeta Melancolia, Claire se depara com o eminente fim e com a incerteza sofre a salvação dela e de sua família.

Alexander Skarsgard, Kirsten Dunst, Kiefer Sutherland e
Charlotte Gainsbourg
Kirsten Dunst está ótima neste filme. Percebe-se o vazio em seu olhar e o seu ceticismo, algo característico em alguém com depressão. Charlotte Gainsbourg transparece o medo e a agonia de alguém que começa a temer o fim e não vê escapatória. O filme também conta com a ótima atuação de Kiefer Sutherland como o marido de Claire, John, um amador astrônomo que garante que o planeta não irá colidir com a terra.

Melancolia é o fim, é um mergulho na depressão e na falta de esperança diante de um mundo sem salvação e mostra de uma forma metafórica que a depressão pode ser um planeta em rota de colisão com o seu mundo. Um filme que deve ser visto.